Discutir a disponibilidade de postos de trabalho para pessoas acima dos 60 anos de idade foi um dos motes do IV Congresso Municipal do Envelhecimento Ativo, ocorrido no sábado, 22, no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo.

De iniciativa do vereador Gilberto Natalini, o evento reuniu mais de vinte instituições ligadas à promoção e discussão de políticas públicas relacionadas ao envelhecimento e principalmente à geração de renda e ocupação de pessoas idosas.

Sob o tema “Envelhecimento, trabalho e inclusão social: desafios e perspectivas”, o evento contou com mesas técnicas sobre longevidade, sessão de depoimentos de idosos e a entrega dos prêmio Ecléa Bosi e Tomiko Born.

Ana Amélia Camarano, pesquisadora da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (DISOC) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), realizou palestra magna sobre o tema central do congresso.

Ela apontou o envelhecimento populacional como  uma “democratização da sobrevivência”. Os avanços tecnológicos desaguam em um aumento na expectativa de vida e consequentemente na elevação do número de pessoas mais velhas no país.

Tal democratização, para Camarano, acaba tendo duas possíveis leituras: ser vista como conquista social ou como uma ameaça geracional. Ela destaca que a primeira coisa que vem à mente dos economistas quando se fala na crise do envelhecimento é a aposentadoria.

“Por mais que reconheçamos que o direito à aposentadoria é um ganho e uma conquista social das mais importantes para o século 20, ela não deixa de ser uma marginalização das pessoas mais idosas”, afirmou. Isto porque, por vezes, aposentar-se significa um caminho de reclusão e diminuição de atividade social.

A pesquisadora ainda aponta que a ótica predominante é de que o envelhecimento só traz perdas, o que para ela é uma visão “estática e estereotipada” que não reconhece os avanços da medicina, por exemplo. E em contraposição a esta visão, está a concepção de “melhor idade”, uma fase de “empoderamento”, que também considera estereótipo por ignorar as dificuldades da velhice.

Aline Cardoso, secretária do Trabalho e empreendedorismo, apontou durante mesa de abertura que a sociedade precisa estar menos focada nas “hard skills”, que são habilidade de execução, e priorizar as soft skills, habilidades sociais e comportamentais, algo que as pessoas vão refinando ao longo de suas vidas.

Cardoso também destacou que há diferença entre empregabilidade e trabalhabilidade. No primeiro caso é a chance de que um idoso consiga um emprego formal, a outra diz respeito às chances de criação de renda, mesmo que não associados a um cargo formal de trabalho.

Ao seu lado, na mesa de abertura, participaram Marly Augusta Feitosa, presidente do Grande Conselho Municipal do Idoso, o cantor Luiz Ayrão, Berenice Maria Giannella, secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania, o vereador Gilberto Natalini e o jornalista Sergio Gomes, diretor da OBORÉ e representante do Hospital Premier.

Em sua fala, Gomes ressaltou a importância da manutenção e do cuidado com as calçadas. A má condição delas é uma das principais causas de queda de idosos na cidade e impacta diretamente não só na qualidade de vida das pessoas mais velhas, como influencia no aparecimento de outras possíveis doenças em decorrência do uso excessivo de medicamentos.

É dele a idealização do Prêmio Ecléa Bosi – enlace de gerações, que visa aproximar as novas gerações da temática do envelhecimento. O prêmio estimula jovens de 12 a 18 anos a produzirem vídeos com um dos dois temas: Histórias de Vida de Idosos e Mobilidade de Idosos pela cidade – onde recai a questão das calçadas, por exemplo, citada pelo jornalista.

A execução ficou por conta da Entremeios, que cuidou da divulgação e organização dos processos do prêmio.

A iniciativa é também uma forma de homenagear a psicóloga social Eclea Bosi, que dedicou grande parte de sua vida e pesquisa tratando sobre memória, sociedade e envelhecimento.

Bosi, falecida em junho de 2017, foi a idealizadora do Programa Universidade Aberta à Terceira Idade (UAT), que possibilita que idosos maiores de 60 anos integrem cursos de graduação na Universidade de São Paulo (USP). “Não se pode falar seriamente dessa luta em defesa dos idosos, sem passar pela Eclea”, disse Gomes.

A entrega dos certificados e do prêmio para os três melhores vídeos do prêmio foi feita na parte da tarde, juntamente com a apresentação dos trabalhos vencedores do Prêmio Tomiko Born, que visa valorizar, disseminar e estimular pesquisas que contribuam para a melhoria da qualidade de vida dos idosos.

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